sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Expectativa para a Premier League – Rafael Oliveira

Entrevista-com-Rafael-Oliveira-Tv-Esporte-Interativo

A espera acabou e amanhã finalmente começa a Premier League 2010-11. Por isso, fechamos hoje nosso ciclo de entrevistas pré-campeonato. O entrevistado é Rafael Oliveira, blogueiro e comentarista do canal Esporte Interativo. Confira e comente:

Blog Premier League: O Chelsea perdeu jogadores como Ballack e Deco e, apesar de especularem grandes nomes, trouxe apenas Ramires e Benayoun. Na sua opinião, quais são as chances de Ancelotti e seus comandados conquistarem o bicampeonato?

Rafael Oliveira: As chances são grandes. Não aponto o Chelsea como o “grande favorito” porque não vejo um clube com essa condição na temporada 2010/11. O equilíbrio será grande. Os Blues deixam de ter aquele numeroso e homogêneo elenco e passam a apostar um pouco mais na garotada. Ainda assim, Ancelotti vai contar com um grupo forte, que tem todas as condições de brigar pelo título, principalmente com o Manchester United.

A ausência mais sentida será a de Ballack. Apesar de sempre contestado por muitos (especialmente aqui no Brasil), o alemão era peça importante para o funcionamento do time. Dava consistência ao meio, marcando e criando, com boa capacidade de distribuição de jogo desde o campo de defesa. Agora, o Chelsea deixa de ter uma opção muito importante e que dava versatilidade ao setor, com a possibilidade de recuá-lo para liberar Essien mais pelo lado direito, ou de deixá-lo como um “segundo homem”, logo na frente de Mikel ou do próprio ganês.

Deco não jogava bem há muito tempo e não vai fazer tanta falta, a não ser pelo que representava ter um nome como o dele no banco de reservas. Agregava valor ao elenco muito mais pelo status do que pelo futebol, assim como vinha acontecendo com Joe Cole (que jogou pouquíssimos jogos nos últimos dois anos). Belletti vinha sendo mais útil que os dois e dava opção para o meio e na lateral.

Ancelotti não terá mais as alternativas seguras e experientes que possuía (Benayoun dá uma amenizada nisso), mas não tem porque cair tanto por isso. O Chelsea tem uma boa base, mas nunca soube aproveitá-la. Veremos como isso vai acontecer agora. Kakuta, Borini, Bruma, Van Aanholt e Matic devem ganhar mais chances.

Sobre Ramires, é um jogador que pode acrescentar muito ao Chelsea, mas quero ver como será a adaptação dele ao futebol inglês, pela diferença da dinâmica de jogo dos campeonatos. Na Inglaterra, o ritmo é muito mais intenso do que em Portugal. O brasileiro tem qualidade para lutar por espaço no time, mas não ficarei surpreso se demorar um pouco para se adaptar.

BPL: O Manchester United foi outro que pouco movimentou o mercado. Ainda assim, venceu os Blues na final da Community Shield. Podem almejar voos mais altos na temporada?

Rafael: O Manchester United não precisava gastar para entrar forte em 2010/11. Até porque, apesar de não ter vencido nenhuma das três principais competições que disputou, a temporada passada não foi ruim. Foi um ano de adaptação ao impacto de perder Cristiano Ronaldo e Tevez, e o clube superou bem esse obstáculo.

Ferguson é um treinador muito competente e já administrou várias renovações no comando do Man Utd. Afinal, são quase 24 anos no cargo. Nesse período, o posto de maior ídolo já passou de Cantona para Beckham, para Cristiano Ronaldo e agora para Rooney. O elenco é forte (o plantel de “reservas” do clube é muito grande) e a base já está montada. A preocupação na janela de transferências não foi contratar alguma realidade para preencher determinado espaço, mas sim apostar em promessas que podem evoluir e contribuir ainda mais para o já estruturado time.

Javier Hernandez foi um fantástico “achado” dos olheiros e vai dar uma boa alternativa para um ataque que já funcionou bem com Rooney isolado em 09/10. Owen volta de lesão (ninguém sabe por quantas semanas até machucar de novo) e Berbatov (mesmo contestado) também completa o elenco.

Nani e Valencia cresceram muito ao longo da última temporada, Giggs e Scholes ainda fazem a diferença quando jogam, Fletcher é um dos jogadores mais sólidos do campeonato, Carrick é muito bom, e Park é sempre Park (entra em jogos importantes e normalmente dá conta). Ou seja, é um bom meio-campo, com peças que se encaixam exatamente nas variações táticas de Ferguson (4-4-2, 4-1-4-1, 4-2-3-1). Para completar, o técnico ainda deve dar mais chances ao bom Tom Cleverley, que voltou de empréstimo após ótima passagem pelo Watford.

Com Ferguson, o Manchester United ganhou um peso tão grande que não precisa ter um elenco recheado de estrelas para ser favorito ao título de tudo que disputa. Pode não ser um futebol tão bonito, mas é eficiente e regular. Por isso, acredito sim que os Diabos Vermelhos entram forte na temporada.

BPL: A chegada de Roy Hodgson, a permanência dos seus principais jogadores e a vinda de alguns bons free agents garantem à torcida do Liverpool uma Premier League mais tranquila?

Rafael: É curioso como o panorama pode mudar tão rápido. Há poucas semanas, o Liverpool era tratado como um clube em crise, desesperado pela real possibilidade de perder seus principais jogadores (Torres, Gerrard e Mascherano), sem treinador e com donos que, além de odiados, sustentam uma dívida milionária. Não que a situação financeira tenha mudado, mas o clima certamente é diferente.

A confirmação de Hodgson serviu para acalmar um pouco os ânimos e tentar recomeçar. O Liverpool não parece ter elenco para disputar o título, mas entra no campeonato com um bom time titular. A manutenção da dupla Torres/Gerrard e a ótima contratação de Joe Cole faz o clube ter um trio sensacional. O problema passa a ser o aspecto físico, já que todos eles vivem sofrendo com as lesões. Mesmo caso de Aquilani, que poderia ser muito mais útil. Pensando em uma base com esses quatro, mais os bons Carragher, Glen Johnson, Agger e Reina, e os úteis Jovanovic, Kuyt e Lucas, o time não é ruim. Está longe disso. Só não tem reposição.

Outro ponto positivo é que Roy Hodgson é um treinador que sabe muito bem trabalhar “com os pés no chão”. Foi assim que ele deu a volta por cima no Fulham, evitando um rebaixamento e levando a equipe a um histórico vice-campeonato da Liga Europa dois anos depois. Não digo só pelos resultados e por conseguir aproveitar o melhor de jogadores medianos. O treinador tem muita consciência de como planejar uma equipe com recursos limitados, que é a realidade atual do Liverpool. Não adianta esperar por reforços milionários, pois eles não chegarão.

É hora de recorrer à base, algo muito pouco explorado por Rafa Benítez. Dani Pacheco, Ayala, Kelly... Alguns devem ganhar mais oportunidades do que nas últimas temporadas e podem se destacar.

Se vai ser uma Premier League mais tranqüila ou não, já é mais difícil de responder. Depende do quão realista é o torcedor dos Reds. Com time completo e sem sofrer com lesões, é um time para brigar com boas chances de Liga dos Campeões. Diante da realidade de um mês atrás, ficar no Top-4 já é um avanço (há algumas semanas, era difícil enxergar o Liverpool entre os seis melhores). Tranqüilo não vai ser porque a pressão sempre é por títulos, principalmente com o jejum de 20 anos na Premier League.

BPL: Arsène Wenger mantém sua política de apostar em jovens jogadores. Como estão os Gunners para 2010-11?


Rafael: Continua dependente do seu departamento médico. É um fenômeno como um time pode ser tão devastado pelas lesões como o Arsenal. Apesar de investir em jogadores jovens, os Gunners têm uma base já mais experiente e que poderia conduzir o clube ao patamar de candidato ao título. O problema é que essa base nunca é confiável.

Um time com Fabregas, Nasri, Rosicky, Walcott, Arshavin, Van Persie, Vermaelen, Denílson, Song... Não é ruim! Mas quantas vezes Wenger consegue escalar força máxima ao longo da temporada? É muito raro. Então complica.

É garantia de futebol bonito, mas também de irregularidade em virtude das lesões de seus principais jogadores (especialmente Fabregas e Van Persie). Chamakh chega para tentar diminuir a dificuldade do Arsenal de criar alternativas sem depender totalmente das categorias de base. Não que ela seja ruim (é uma das melhores do país), mas não dá para esperar que um garoto entre e solucione todos os problemas. É até injusto, sem contar que, olhando para trás, lembramos que Fabregas e Van Persie surgiram exatamente quando o elenco principal era muito sólido (com Henry, Vieira, Gilberto Silva, Bergkamp, etc), ganhando espaço aos poucos e evoluindo sem a pressão de precisar resolver logo de cara.


BPL: Manchester City, Fulham, Tottenham, Aston Villa... Qual time de fora do "big four" tem força para chegar mais longe na temporada?

Rafael: Para mim, a temporada 2010/11 promete ser muito equilibrada na parte de cima da tabela. Não que várias equipes vão disputar o título, mas acredito em um duelo muito parelho pelas vagas nas competições europeias. Chelsea e Manchester United saem um pouco na frente pelo título, mas o Manchester City não deve muito a eles em relação ao elenco.

O City aprendeu a contratar e vem fazendo tudo certo desde a temporada passada. Montou um grupo muito forte e que tem tudo para funcionar, com um meio campo muito sólido e banco de bastante qualidade. A única dúvida é quanto ao peso do clube, naqueles momentos mais bobos, em que os grandes não costumam vacilar diante de jogos teoricamente mais simples.

De qualquer maneira, na minha opinião, o Manchester City entra lado a lado com o Arsenal como terceira força. Logo atrás estão Liverpool e Tottenham. Os Spurs não investiram ainda, mas terão uma temporada delicada em função da tão aguardada participação na Liga dos Campeões. Pode faltar elenco, mas qualidade a equipe tem. Isso ficou claro no primeiro semestre de 2010, quando o Tottenham começou a acreditar no seu potencial, encarando os grandes “pra valer”. Lennon, Modric, Huddlestone e Bale são grandes jogadores e podem conduzir o Tottenham a mais um ano entre os quatro primeiros. A dificuldade está exatamente no equilíbrio, com o fortalecimento de Liverpool, Man City e até mesmo o Everton em relação ao ano anterior.

Com a saída de Martin O’Neill, não acredito no Aston Villa. O treinador fazia toda a diferença e dificilmente será substituído. O clube ainda corre o risco de perder James Milner nos próximos dias, o que completaria a catástrofe. Se nos últimos anos, a equipe voltou a se firmar como um duro adversário, já não se pode prever o mesmo para a próxima temporada. Perder Barry já havia sido complicado, mas Martin O’Neill soube dar a volta por cima. Agora sem o técnico e possivelmente seu principal meio-campista (Milner), a coisa fica feia. Claro que Petrov, Downing, Ashley Young (se ficar) e Agbonlahor ainda formam um time forte, mas a falta de elenco ficará ainda mais evidente.

O Fulham também tem um desafio complicado em 2010/11. Não vai ser fácil manter o crescimento dos últimos anos, especialmente após a saída de Roy Hodgson. Mark Hughes ganha uma chance para retomar uma carreira que teve início promissor no Blackburn, mas que não deslanchou como o esperado no Man City. Pelo menos, o técnico deve conseguir segurar a base, mas é um grupo que já parece ter atingido o máximo que podia em 2010, na final da Liga Europa. Ainda assim, é time para ficar entre os 10 primeiros, sempre contando com o “caldeirão” de Craven Cottage.

Só para não passar batido, o Everton é uma equipe que pode voltar a dar trabalho. Tem um dos melhores técnicos do campeonato (David Moyes) e não perdeu peças importantes. Não contratou quase ninguém (até porque não tem dinheiro para isso), mas tem qualidade. Em 09/10, sofreu muito com a quantidade de lesões. Se isso não se repetir, dá para brigar por Liga Europa. Se Donovan voltar, melhor ainda. Mas de qualquer forma, a base com Cahill, Fellaini, Arteta e o excelente Jack Rodwell é bem interessante, especialmente se a defesa voltar a ser a fortaleza de dois anos atrás (Jagielka finalmente volta de lesão, o que já é um reforço e tanto).

BPL: Entre os três times que subiram - Newcastle, West Bromwich Albion e Blackpool, qual chega mais preparado e qual fará figuração na EPL?

Rafael: A classificação final da Segunda Divisão na temporada passada representa bem a realidade dos clubes para a Premier League. O Newcastle volta para ficar, até pela tradição e torcida que tem. Não vai ser fácil, mas, mesmo quando caiu, já era um elenco com qualidade para se manter na elite. Não contratou muito, e também nem precisava. Os Magpies não podem esperar um retorno brilhante, mas a manutenção na Premier League já será o suficiente.

O West Bromwich mais uma vez encara o desafio de superar o impacto entre as divisões. O clube tem sido um dos maiores “ioiôs” do futebol inglês nos últimos anos. Consistente na Championship e saco de pancadas na Premier League. Na temporada passada, mais uma vez apresentou um bom futebol na segunda divisão, mas ainda não se sabe se será o suficiente. As contratações de Shorey, Ibañez e Reid servem para dar mais força ao elenco, principalmente no setor defensivo, mas o time precisa mudar um pouco sua maneira de jogar. Já ficou claro nas últimas passagens pela primeira divisão que não adianta tentar jogar de igual para igual com equipes muito mais fortes. E aí está o maior impacto sentido pelo clube que atua muito solto na divisão inferior. A permanência de Graham Dorrans no meio-campo foi fundamental, mas é difícil acreditar no WBA. Bem provável que caia de novo.

O Blackpool é um grande candidato ao último lugar. A explicação é simples: o acesso para a Premier League já foi uma surpresa e tanto. Ian Holloway fez um incrível trabalho levando o time para a elite do futebol inglês quando tinha um elenco para ficar, no máximo, na metade da tabela da segundona. Se tem alguma boa notícia, foi ter segurado o bom meia Charlie Adam, grande destaque na temporada passada e que poderia ter acertado com equipes mais fortes. Mas é quase impossível contar com outra surpresa como a de 09/10. Ao contrário do Burnley (que foi uma surpresa esperada no início do último campeonato), o Blackpool nunca mostrou esse futebol com qualidade para bater de frente com clubes do nível da Premier League. Mas quem sabe? Eu não acredito, mas de repente...

2 comentários:

  1. Alguma rede de TV aberta vai transmitir o campeonato ingles?

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  2. Não tenho certeza ainda, mas aparentemente, a RedeTV! passará a transmitir a Premier League.

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