terça-feira, 28 de setembro de 2010

Entrevista: Décio Lopes

Depois de nomes como Mauro Cézar Pereira, Leonardo Bertozzi e Rafael Oliveira, estamos trazendo mais um entrevistado especial para o Premier League Brasil. A bola da vez é Décio Lopes, repórter do SporTv, responsável desde 2003 pelo programa Expresso da Bola, onde entrevista brasileiros que jogam no exterior. Aqui ele fala um pouco sobre sua experiência com o futebol inglês, além de histórias curiosas e de revelar seu time na Inglaterra. Boa leitura!

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Premier League Brasil: Você já esteve na Inglaterra fazendo o Expresso da Bola por diversas vezes e com certeza tem algumas histórias curiosas sobre essas reportagens. Poderia nos contar uma?

Décio Lopes: Tem uma ótima. Em Liverpool, peguei um taxi no centro e dei ao motorista o endereço do Fábio Aurélio. O taxista digitou tudo no gps e foi seguindo. Eu conheço Liverpool direitinho e fui reconhecendo que, aos poucos, fomos passando pelo bairro dos Beatles. Cruzamos com Penny Lane, passamos pelo antigo Sgt. Peppers, pertinho da casa da Mimi (tia do John)... Aí o taxi subiu uma ruazinha escura e foi diminuindo a velocidade. Até que o gps disse que tínhamos chegado ao destino. Só que no local não havia casa alguma. Sabe onde estávamos? Acredite: diante dos portões de Strawberry Field (o tal da música dos Beatles!!). Eu, naturalmente, desci, tirei uma foto e voltei ao taxi - até porque chovia, como sempre. Voltamos a procurar pelas cercanias onde haveria um condomínio de belas casas - o Fábio já havia me dito que neste condomínio moravam vários jogadores do clube. Pois rodamos, rodamos, rodamos... Até que, de repente, procurando por placas e indicações, eis que se abre um portão e, de lá, sai um baita carrão esporte. Quem está no volante? Fernando Torres. O próprio. Eu nao tive dúvidas. É ali mesmo! Naquele portão. E era. Claro.  

PLB: Entre todos os clubes que já visitou, qual estrutura te encantou mais?

Décio: Na verdade na Inglaterra os CTs são fechadíssimos. Jornalistas não sao bem vindos. Então eu sempre gravo na rua, na casa do boleiro ou nos estádios - estes sim, eu conheço bem. O Emirates Stadium – do Arsenal - é simplesmente espetacular. Conforto, serviços e visão perfeita em um estádio imenso e lindo.

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Imagem de uma das edições do Expresso da Bola, com os gêmeos Fábio e Rafael, do Manchester United

PLB: A Inglaterra é o país onde nasceu o futebol. Como é o envolvimento das pessoas com o esporte, comparando com o Brasil?

Décio: São mais fanáticos que nós. Eu não tenho dúvidas. O espanhol, o italiano e o inglês são viciados em futebol. Vivem isso, falam disso, bebem, comem, tudo com o futebol. Tem jogo todos os dias, em todos os lugares - sempre há uma TV ligada em um jogo. Amam o futebol. Amam os seus clubes intensamente. O seu clube é quase o seu sobrenome. No norte do país então... É lindo. Eu acho muito bacana mesmo. De tanto perderem, eles se acostumaram a não acreditar na seleção e a envolverem-se menos com o English Team. Mas quanto a clubes... São alucinados. Nada menos que isso.

PLB: Você já teve a oportunidade de visitar o Museu do Futebol em Preston, considerado o mais importante do mundo. O que um amante de futebol, como você, se sentiu em um lugar como aquele?

Décio: É mágico. É espetacular. É como ir à casa do John Lennon, para usar uma metáfora inglesa. É entrar em um templo. Dá vontade de ajoelhar e rezar. Obrigado por existir, futebol.

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Museu do Futebol, em Preston

BPL: "A Premier League é a melhor liga nacional do mundo em termos técnicos". Você acredita nessa afirmação?

Décio: Acho que a crise econômica bateu muito forte na Europa e fez estragos no futebol. A Inglaterra, com a libra em alta, somada aos investimentos sem fim dos mafiosos e mega empresários, deitava e rolava. Há dois anos eu não teria a menor dúvida em afirmar isso. Hoje já paro pra pensar. Vejo o Barcelona e o Real Madrid melhores tecnicamente. Isso faz da liga espanhola melhor? Provavelmente não, já que há um desnível muito grande entre os clubes. Mas acho que a Inglaterra já não se sobressai tanto neste momento. Até porque na Espanha uma lei beneficia os clubes e permite que os estrangeiros sejam contratados com muito mais facilidade. Contrabalançou um pouco com os grandes lavadores de grana que faziam a festa na Inglaterra. Com o mercado financeiro desaquecido, com o petróleo em baixa, a lavanderia também diminuiu o movimento.  

BPL: Sandro e Ramires são os últimos brasileiros a desembarcarem na Inglaterra. Wellington Silva já é o próximo. Por que os clubes ingleses vêm investindo tanto em jovens brasileiros, o que não era comum até pouco tempo?

Décio: Acho que justamente por estarem buscando alternativas mais baratas. Já não há aquele esbanjamento dos tempos em que a libra valia 6 reais. Em Londres eu cheguei a trocar cem euros por 70 libras. É uma diferença bizarra que diminuiu abruptamente. Isso tem o lado positivo de obrigar os dirigentes a serem mais inteligentes e comedidos, em vez de simplesmente comprarem tudo o que há no mercado. Acho também que experiências como a de Fábio e Rafael incentivaram outros clubes a tentarem resultados semelhantes. É mais arriscado, mas muito mais barato, comprar jovens com potencial. O Ramires nem se encaixa aí, já que já vem "testado" de Portugal e na Seleção, mas é um jogador jovem e nem tão glamuroso quanto outros brazucas.

BPL: Aliás, Sandro e Ramires são pautas para futuros Expressos da Bola?

Décio: Sem dúvida nenhuma. Já gravei com o Ramires em Lisboa, mas agora é outro momento, outra fase, outra vida... Eles e Denilson estão certamente na mira.

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Fabio Aurélio, do Liverpool, foi mais um a participar do Expresso da Bola

BPL: Você já esteve com a seleção brasileira em Londres algumas vezes. Como é a recepção dos ingleses para com a nossa seleção?

Décio: Muito boa. Os ingleses admiram muito o futebol brasileiro, mas muito mesmo. A ponto de babarem para nós mesmo... Eu, por exemplo, já comprei uma camisa na loja oficial do Manchester City em que há uma bandeira brasileira e os escritos "just like watching Brazil". Acho que é o auge da admiração! Os caras colocam o jogo brasileiro como um objetivo a ser atingido. É mais ou menos o que eu penso sobre o rock inglês.

BPL: Por último, mate a curiosidade dos nossos leitores: você tem algum time de preferência na Premier League?

Décio: Tenho. Confesso que gosto do Liverpool (por causa dos Beatles e dos meus camaradas Lucas e Fabio), mas torço mesmo é pelo Tottenham. Sofredor, né...? Rs rs rs fazer o quê? Preferência de clube não é questão de ganhar mais ou menos. Isso não faz a menor diferença para mim. É uma questão de estilo. Eu gosto do Tottenham, do estilo, da tradição, da camisa, da torcida... O bairro onde está o estádio é um lixo. Parece terceiro mundo. Mas o clube é o máximo. Eu gosto. Especialmente nestes tempos em que meu amigo Gomes brilha por lá.   

5 comentários:

  1. Vocês deviam entrevistar o Vitor Sergio Rodrigues. É um dos melhores comentaristas da atualidade, torcedor do Arsenal e sabe muito de futebol inglês.

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  2. Muito boa a entrevista. Show. Eu sempre vejo o Expresso da Bola. Vejam meu blog sobre futebol também : http://lucasmergel.blogspot.com/

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  3. Muito boa a entrevista, pessoal!! Que pena que ele torce pros Spurs.. :P

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